Diante da urgente necessidade global de reduzir as emissões dos Gases do Efeito Estufa (GEE) e promover a circularidade nas cadeias de valor, debater e colocar em prática os conceitos e aplicações da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) na transição para uma economia circular de baixo carbono se tornou uma questão fundamental para empresas, governos, instituições de ensino e pesquisa, e demais segmentos da sociedade civil.
Esse e outros desafios foram os temas debatidos durante o 8º Congresso Brasileiro sobre Gestão do Ciclo de Vida, realizado entre os dias 28 e 30 de novembro, na cidade de São Paulo, com patrocínio da Fundação Eco+. Organizado pela Associação Brasileira de Ciclo de Vida (ABCV), o evento busca conectar academia, setor produtivo e poder público para incentivar a troca de conhecimento, a cocriação de soluções tecnológicas e a identificação de oportunidades de sinergia no uso da metodologia.
Ao longo de três dias, os participantes puderam participar de minicursos, palestras e sessões orais conduzidos por especialistas, que refletiram sobre os desafios e oportunidades no uso da AVC como ferramenta no processo de redução das emissões dos Gases do Efeito Estufa (GEE) e promoção da circularidade nas cadeias de valor.
Os minicursos apresentaram temas como: ACV, Rotulagem e EPD (Environmental Product Declarations), termo em inglês para Declarações Ambientais de Produto, que defende a apresentação de informações transparentes, verificadas e comparáveis sobre o impacto ambiental no ciclo de vida dos produtos. Também abordaram as ferramentas (softwares) disponíveis no mercado e a ACV Social, técnica utilizada para avaliar os impactos sociais e socioeconômicos ligados à produtos ou serviços.
Já as palestras foram mais diversificadas e trouxeram estudos sobre cenários globais e setoriais, através de provocações e insights de como alcançar a sustentabilidade absoluta, como comprovar a sustentabilidade em produtos para os consumidores, quais as soluções para resíduos pós-consumo, as jornadas de descarbonização dentro do setor privado, dentre outras.
Em uma das palestras introdutórias, foi compartilhada a atualização da abordagem conhecida como “Limites Planetários”, baseada no estudo Earth beyond six of nine Planetary Boundarie1, publicado em setembro deste ano, que concluiu que 6 dos 9 limites planetários (conforme figura ao lado) foram transgredidos. Isso significa que as atividades humanas estão cada vez mais impactando a vida e o clima na Terra, acelerando as mudanças que colocam em risco as dinâmicas que sustentam a vida segura no planeta e potencializando o desencadeamento de mudanças irreversíveis.
Para além das questões globais de sustentabilidade e metodológicas da ACV, também foram pontuadas algumas dificuldades comuns do meio acvista, como a necessidade de maior transparência nos estudos que são realizados dentro das organizações, com uma divulgação de detalhes técnicos nos relatórios que possibilitem análises com um maior embasamento para os stakeholders. Além de uma grande dor de diversos setores, que é a oferta de profissionais capacitados na área de ACV.
Ainda sobre a busca por transparência, o evento como um todo incentivou iniciativas de compartilhamento de conhecimento. Nas sessões orais, diferentes membros e pessoas da comunidade apresentaram casos práticos divididos basicamente nos segmentos: industrial, agroindustrial, políticas públicas, construção civil, resíduos, energia e ecoeficiência – com apresentações rápidas sobre os trabalhos e projetos desenvolvidos nos últimos anos pelos participantes. Grande parte desses trabalhos estavam relacionadas aos temas de fontes renováveis, biocombustíveis, embalagens, emissões climáticas, rótulos, efluentes, reciclagem de materiais etc.
Soluções Eco+
Nós, da Fundação Eco+, estivemos presentes no evento como patrocinadora e fonte de conteúdo, com a apresentação de três sessões presenciais, onde compartilhamos alguns resultados de aplicações práticas baseadas na ACV. A primeira sessão foi “Rótulos Verdes: a influência no processo de consumo e a importância do diálogo com o consumidor”, ministrada por Rebeca Venâncio (analista da Fundação e acvista), que discutiu a importância de utilizar a comunicação para dialogar sobre sustentabilidade com o consumidor. Ela defendeu que é preciso apresentar os impactos ambientais gerados pela fabricação de produtos, visando a transparência e a conscientização das pessoas, tornando comum a informação ambiental, assim como ocorre com os dados nutricionais nos rótulos dos produtos.
Depois, foi a vez de Gabriela Santos (analista da Fundação) apresentar o exemplo bem-sucedido do “Demarchi & Jaboatão + Ecoeficiente: o sucesso entre o engajamento e a gestão ecoeficiente da operação industrial”. Gabriela representou a equipe Fundação Eco+ e BASF, responsáveis pela implementação do modelo de gestão que coloca a ecoeficiência como prioridade nos processos produtivos das unidades da BASF do segmento de tintas decorativas e automotivas. Implementada há mais de 10 anos, a iniciativa já alcançou resultados expressivos de redução de impactos ambientais, como emissões de GEE e desperdício de recursos, além de ganhos econômicos.
Na última sessão, Vitória Lanes (analista da Fundação e acvista) apresentou a “Análise de Ecoeficiência dos Campeões de Produtividade do CESB”, projeto desenvolvido em parceria com o Comitê Estratégico Soja Brasil, que calcula, através da Análise de Ecoeficiência, os impactos ambientais potenciais da produção de soja dos produtores nacionais de maior produtividade. Mostrando que melhores práticas agrícolas podem reduzir o impacto ambiental na produção de soja e incentivando demais produtores a adotar medidas de produção agrícolas mais sustentáveis.
Como agentes do terceiro setor, atuando de modo consultivo e produzindo conhecimento via interesse público, nós da Eco+ entendemos que a participação e contribuição em fóruns como o Congresso GCV apoiam organizações a encontrarem e desenvolverem caminhos mais sustentáveis.
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