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PROCURA-SE: Mulheres no ESG

O tema “Sustentabilidade nas empresas” não é mais uma questão de diferenciação, mas de sobrevivência. É necessário investir em práticas sustentáveis para não ficar para trás, pois os consumidores estão mais atentos às práticas das empresas, em especial das mulheres.

Uma pesquisa da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, mostrou que as mulheres fazem parte da fatia de consumidores que mais se preocupa com aspectos de sustentabilidade em seu dia a dia, escolhendo produtos que gerem menos resíduo (e depois reciclando) e decidindo por produtos com menor impacto ambiental, além de serem decisoras em muitos processos de compra. O ato de cuidar, proteger, trabalhar de maneira cooperativa e de longo prazo sempre foram mais conectados ao perfil feminino na sociedade.

Não só do ponto de vista de consumidora, mas comportamentos atribuídos às mulheres nas empresas podem se traduzir em melhor desempenho, construindo olhar de longo prazo baseados em princípios de desenvolvimento sustentável, no qual o crescimento econômico se faz por meio de, com e para um mercado de consumo. Trata-se de um olhar estratégico para a perenidade da empresa.

Hard Skills/ Soft Skills

Alguns comportamentos baseados em empatia, gentileza, gratidão e confiança – muitas vezes subjetivos e difíceis de serem mensurados e até expressados -, quando encontram um ambiente empresarial propício, aberto e respeitoso, pavimentam uma cultura empresarial sólida, gerando estima, admiração e legitimidade. Reitero o quanto as mulheres, em diversos cargos nas corporações, aportam esses comportamentos, com um novo olhar para a maneira como fazemos negócios.

Aqui, é preciso dar destaque para o respeito. Respeito com o meio ambiente, respeito com as pessoas, respeito com as partes interessadas. Respeito, simples assim. Se fosse mais praticado e servisse de alicerce para as relações humanas e empresariais, teríamos mais encontros e menos desencontros, além de mais prosperidade.

Relações de respeito precisam ganhar tração nas empresas, e a liderança tem um papel fundamental nessa condução para novos comportamentos, e renunciar a outros que são inaceitáveis. A tomada de decisão será ainda mais assertiva, resultando em questões concretas como ética, cidadania, transparência, inovação, criatividade e desempenho.

Se consideramos uma demanda para profissionais, serão necessários comportamentos em sustentabilidade, que vão além do gênero, pois é uma demanda de negócios humanos.

E será que as empresas, nessa onda de ESG que muitos se posicionam, estão mesmo preparadas para alterar os filtros inconscientes (e mesmo os conscientes) para um tratamento igualitário, justo e respeitoso?

Equidade Salarial / Certificação Equal Pay

A realidade nos indica que ainda há muito a ser feito em relação à igualdade de gêneros na sociedade e, por consequência, nas organizações também. A discrepância salarial entre homens e mulheres representa uma das maiores injustiças sociais dos dias de hoje. No cerne desta questão em relação ao combate à desigualdade, no quadro da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável das Organizações das Nações Unidas (ONU), nos deparamos com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que, em seu Objetivo 8, mais especificamente na meta 8.5, apela de forma direta a necessidade do salário igual para trabalho de igual valor.

Por que as mulheres geralmente ganham menos do que os homens?

De acordo com o Relatório Global sobre os Salários 2018/2019 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o que está por trás do componente inexplicado das diferenças salariais entre homens e mulheres, são questões que incluem os baixos retornos da educação para as mulheres nas mesmas profissões, os efeitos da feminização das profissões e dos locais de trabalho nos salários e o efeito da maternidade nas mulheres e da paternidade nos homens no que diz respeito aos seus respetivos salários.

Os dados e observações dos estudos sugerem que a participação das mulheres no mercado de trabalho é afetada de um modo diferente da dos homens devido aos anos dedicados à criação dos filhos, o que aponta que este não é apenas um efeito de curto prazo e de proporção significativa de mulheres em todo o mundo.

Como um meio de solucionar estas questões, reforçar os pilares de governança nas organizações e minimizar índices que apontam métricas tão desiguais, a Universidade de Genebra, Suíça, desenvolveu uma metodologia para certificar as práticas de equidade salarial. A Certificação Equal Pay tem o objetivo de auditar as práticas de remuneração nas organizações no processo de equidade salarial entre gêneros. A certificação é concedida pela EQUAL-SALARY Foundation e tem validade de três anos e, vamos convir que este prazo é razoável para quem deseja, verdadeiramente, realizar adequações e seguir com o processo de melhoria contínua em suas atividades.

Este é um período em que algumas organizações e profissionais estão conhecendo e formando a agenda ESG e, com isso, identificando as questões relativas às dimensões que mais impactam seus negócios. A exemplificar, no aspecto social, questões de trato salarial, educacional, racial, etária, muitas mulheres ascendem em suas carreiras e conquistam cargos de (alta) liderança em diversas organizações. Atualmente, é possível encontrar mulheres ocupando posições com poder de tomada de decisão, coisa que décadas atrás era inimaginável.

Apesar dos esforços mútuos (vamos compreender que esta mutualidade vem da representatividade de diferentes stakeholders que atuam na luta pelos direitos humanos), ainda temos um número pífio de representatividade, ainda mais, de representatividade de mulheres no segmento ESG. Diversas especialistas no tema Mulheres recomendam que haja um número maior de cadeiras para estas profissionais, ou seja, com maior representatividade nas organizações e, que demonstrem em práticas diárias a Governança que transparece em suas políticas e programas.

Porém, infelizmente, neste âmbito da Governança Corporativa, não são todas organizações que (re)conhecem e seguem o que reza “a bíblia da governança corporativa”, isto é, o  Código de Melhores Práticas de Governança, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) que recomenda composição dos Conselhos tendo em vista a diversidade de conhecimentos, experiências, comportamentos, aspectos culturais, faixa etária e de gênero” e que garantam que “a diretoria estabeleça e divulgue políticas que propiciem igualdade de oportunidades para o acesso de mulheres a posições de alta liderança na organização. Mas, parece que os cenários atuais apontam para outros sermões…

Mulheres no Conselho de Administração

Um estudo realizado pela consultoria Comdinheiro a pedido do jornal Valor Econômico, apontou aumento na participação feminina nos conselhos de administração das maiores companhias de capital aberto. Os dados demonstram que em 2021, 16,1% dos assentos são ocupados por mulheres. Em comparativo aos anos anteriores, a porcentagem era de 11,4% em 2019 e três anos antes, de 6,9%. Apesar do número de representatividade ter aumentado, ainda está distante do patamar considerado ideal – o número razoável, considerando parâmetros internacionais seria de 40%.

O estudo indica que a participação das mulheres em cargos de diretoria cresceu 148% em cinco anos, passando de apenas 33, entre 507 diretores no total em 2016, para os atuais 82, dentre 674. E, apesar do crescimento, a participação das mulheres na diretoria é de apenas 12,2%. O cenário não é nada animador quando apresentam a informação que das 81 companhias avaliadas, 36 não têm nenhuma mulher nesse nível hierárquico.

Ainda refletindo…

Queremos continuar esse diálogo: Cabe, no mundo de hoje, negar o poder transformador da presença das mulheres nas empresas, de maneira igualitária? Quem se posiciona ao contrário, sabendo quanto de valor pode ser agregado ao negócio? Pouco se vê questionamento dessa abordagem e necessidade, e sabemos que há um ativismo silencioso contrário à essa mudança na sociedade, porque falar em público em contrário, é bastante negativo.

Fomos educados com filtros, todos nós, que nos leva a sentir, pensar e agir com nossos vieses, sendo um exercício diário para revertermos esse olhar, não só de homens, mas de tantas mulheres que podem reduzir as barreiras para outras mulheres.

Este artigo foi escrito a quatro mãos, por mulheres apaixonadas por sustentabilidade, com trajetórias pessoais e profissionais de conquistas: Christie Bechara e Claudia Leite. Acreditam no poder transformador do conhecimento a mais mulheres e compartilham sua visão, crenças e valores em suas atividades. Se conectaram por propósitos semelhantes, e descobriram mais pontos em comum e oportunidades de crescerem como profissionais e como indivíduos.