Ai, que calor….
Começo este texto reclamando, como um Homo sapiens padrão que muitas vezes tem por hábito estar insatisfeito.
Embora, neste caso, talvez o incômodo por ter enfrentado temperaturas beirando os 40°C na cidade de São Paulo, em pleno inverno, faça sentido do ponto de vista de sensação física.
Mas, acredito que este impulso de nos sentirmos insatisfeitos é o que nos levou a esta situação de calor!
Afinal, nossa trajetória ao longo da vida passa por necessidades e toda atividade humana gera algum impacto no ambiente, incluindo emissões de gases de efeito estufa, como, por exemplo, nosso impulso por consumir.
Notoriamente, exageramos!
As ondas de calor que ocorreram recentemente e que tem ocorrido com cada vez mais frequência, mas não só as de agora, adiciono as das últimas décadas também acompanhadas pela série histórica de elevação da temperatura global e de outros fenômenos climáticos, devem ser observadas como uma perspectiva de causa e efeito e não como um evento pontual.
E assim é a Ciência, não é mesmo! Primeiramente observa-se o fenômeno e depois formula-se hipóteses investigáveis dentro do que já foi descrito como conhecimento, para que em um próximo momento, dados sejam analisados para avaliar se as hipóteses são corroboráveis ou não.
A questão é que já estamos em 2023 e a Ciência, há algumas décadas, já nos mostrou que o clima está mudando em função da ação humana, então ela já fez a sua parte.
O ponto chave, e não choverei no molhado, é que as emissões de gases de efeito estufa são a causa para os efeitos que sentimos, como possivelmente os quase 40°C na cidade de São Paulo em pleno inverno.
Nesta expectativa de que algo tem que ser feito, os países membros da Conferência das Partes (COP) se reúnem para discutir sobre as mudanças climáticas e se compromissar com caminhos para frear e eliminar as emissões dos gases de feito estufa. E existem metas!
Para os que acompanham as discussões este dado já é de conhecimento, para os que não, repito a informação, o Acordo de Paris ou Acordo do Clima, celebrado em dezembro de 2015, durante a COP 21, tem como grande objetivo limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C. Para chegar a tal meta o ponto central é reduzir, eliminar e desenvolver iniciativas que removam os gases de efeito estufa da atmosfera.
Chegamos a está situação, principalmente, mas não somente, pelo uso do que chamamos combustíveis fósseis, que são as fontes de energia derivadas do petróleo e carvão mineral.
No próximo mês teremos a COP 28 que será realizada na cidade de Dubai, no Emirados Árabes. Curiosamente, esta região do globo terrestre é o centro de maior produção de petróleo, base para os combustíveis fósseis e outros produtos que usamos em nosso dia a dia, afinal são muitas centenas de objetos que são derivados desta matéria prima e, direta ou indiretamente, as usufruímos. Então, prefiro não apontar o dedo para ninguém, o problema é de todos e a mudança climática é global e não local e tem suas bases históricas.
Já se passaram 8 anos do acordo de Paris, e, me pergunto, se é possível ter alguma boa expectativa para ter ações e atitudes concretas relacionadas a frear/eliminar as emissões de gases de efeito estufa.
Iniciei o texto reclamando do calor, como um bom Homo sapiens, mas uma outra característica intrínseca de nossa espécie é a de ter esperança. E, se olharmos o que possivelmente estará a mesa para esta próxima COP “talvez” justifique este meu sentimento e aqui elenco os seguintes pontos que estarão em debate:
1) A estimativa do IPCC (grupo de discussão científico-político sobre o tema do clima) é de que se a temperatura média global subir 1,5°C até o final deste século, as mudanças climáticas podem custar cerca de US$ 54 trilhões (ou US$ 69 trilhões, se as temperaturas subirem 2°C). Portanto, a questão econômica é um ponto chave a ser discutido e se mostra um forte motivo para que os países, empresas e sociedades unam mais forças, tecnologias e financiamentos para enfrentar a crise climática global. Sultan Al Jaber, o presidente da COP 28, quer atingir a marca de US$ 100 bilhões no fundo para transição climática durante o encontro conforme previsto nas metas do acordo de Paris para apoiar as nações menos favorecidas na transição climática.
2) Um dos principais temas que será discutido na COP 28 será energia. Afinal, é por este rumo que a meta de descarbonização pode ser alcançada e o balanço do que foi feito pós Paris será debatido. Existe um contraste muito grande entre os países em relação a autossuficiência energética e dependência de matriz fóssil, segundo o Índice de Vulnerabilidade Energética Global da Euromonitor International. Mesmo os principais países exportadores de petróleo possuem dificuldades em manter o abastecimento de energia dado a crescente da industrialização. Por isso, altos investimentos em energia renovável vêm sendo feito, principalmente em hidrogênio verde. Como tendência, é observado uma redução na diferença de investimentos realizados para fomentar energia de origem fóssil e renovável.
3) Muitos países já fizeram suas respectivas precificações internas de carbono e colocados os nortes setoriais para limitar as emissões de gases de efeito estufa. Outros estão na iminência de lançar suas políticas nacionais, como é o caso do Brasil, este movimento de estabelecimento de critérios trará maior clareza e por consequência segurança jurídica para investimentos, além de favorecer esforços para redução de emissões de carbono nas empresas.
Poderia citar outros pontos de destaque, como por exemplo, maior protagonismo de empresas nos debates e uma agenda de biodiversidade e conservação de ecossistemas naturais mais próximas as agendas de ações em clima. Contudo, desde o início do acordo de Paris, os debates relacionados a substituição de matriz energética fóssil para renovável e a organização de um fundo global para apoio de países em desenvolvimento no combate as mudanças climáticas perduraram e seguem sem definições claras até o momento. Possivelmente esta será a COP em que encaminhamentos sobre estas agendas serão definidas.
Observação à parte, em virtude desta onda de calor, acabei movimentando a economia e comprei um ventilador. Minha conclusão é de que apenas um ventilador só não refresca o verão – ou agora o inverno/primavera. Porém o bolso é curto e não posso comprar outro ventilador, quem dirá um ar-condicionado, tenho boletos para pagar que estão para vencer. Então, sigo na esperança, porém com boas evidências de que existe um movimento genuíno, não tão veloz é verdade, para discutir, debater e agir frente às mudanças do clima.
Compartilhe